quarta-feira, 7 de março de 2012

Pancadaria made in Brazil


Filme de gênero sempre foi coisa rara no Brasil, talvez por uma mistura de desinteresse, poucos espaços e uma falta de visão mais segmentada do mercado, além do fato óbvio que não temos uma indústria que produza em quantidade para os mais diversos gêneros e mercados. Aí dependíamos de iniciativas solitárias de malucos como José Mojica Marins e seu terror tropicalista protagonizado por Zé do Caixão ou Afonso Brazza, o Rambo do Cerrado, e seus vídeos de ação. Em pouco mais de dez anos, com a rápida disseminação das câmeras digitais e a internet como importante meio de exibição, a produção barateou e mais gente pode colocar a câmera e as ideias para rodar.
Não por coincidência quem mais se beneficiou desse novo estado das coisas foram os filmes de terror e seus fãs, sempre organizados, atuantes e colaborativos. Surgiram assim os perturbantes curtas de Dennison Ramalho (Amor Só de Mãe e Ninjas), os zumbis e monstros capixabas de Rodrigo Aragão(Mangue Negro e A Noite do Chupacabras) e os mortos-vivos paulistanos de Raphael Borghi (do vindouro curta Desalmados — O Vírus). E nessas ficava me perguntando sobre uma das minhas preferências cinematográficas... e os nossos filmes de ação? Onde estão os filmes de ação?
No decorrer dos anos 2000 alguns filmes brasileiros de sucesso (Cidade de Deus e Tropa de Elite 1 e2) mostraram que já temos expertise para poderosas sequências de ação. Houve também uma interessante, mas comercialmente fracassada, tentativa de inserir a capoeira no imaginário do gênero (Besouro). Porém, só no início desse ano foi lançado Dois Coelhos, o mais ousado e bem produzido longa brasileiro de ação até então. Mas não tem jeito, aprendizado é isso, acúmulo de experiências e feitos. Fiquei então animadão quando li uma reportagem no site da Vice ("Bater e correr em Recife") sobre a websérie Luta de Rua.
Muito bem coreografado pelos dublês e atores de ação da Pinóia Filmes, com boa filmagem e edição,Luta de Rua tem chances de crescer nos próximos episódios (já existe o trailer do segundo) mostrando, na raça mesmo, que já temos algumas cartas boas nas mãos. E não adianta criticar os "atores", o "texto" ou o "roteiro" porque o negócio aqui é fazer ação do melhor jeito possível e à moda da casa ("É o que temos!", diria Paulo de Oliveira, do programa Larica Total). No mais, o responsável por toda essa pancadaria-coisa-nossa é o roteirista e produtor Ulysses Paiva, um carioca radicado em Recife, formado em Publicidade e com experiências efeitos visuais e animações 2D e 3D.
"Percebo que, ou importamos muita coisa de fora na tentativa de 'copiar' alguns elementos que deram certo, descaracterizando completamente a produção como sendo brasileira, passando a parecer uma cópia mal feita de algum filme estrangeiro de sucesso; ou simplesmente priorizamos demais algo tipicamente brasileiro e acabamos esquecendo que nem tudo da nossa cultura é interessante o suficiente ou entretenimento suficiente para que o público possa apreciar plenamente. Eu acho que temos, sim, como fazer algo dentro da nossa realidade e do nosso cotidiano sem perder o foco na qualidade e entretenimento de todos que assistam a produções brasileiras, inclusive no gênero de ação", disse em entrevista ao Yahoo! Brasil.
Falta dinheiro, claro, e Paiva esclarece que, "no gênero de ação, você precisa, inevitavelmente, de grandes auxílios visuais como cenas de luta ou perseguição em ambientes controlados, grande aparato de segurança, uma boa equipe de efeitos especiais e visuais, entre outros. E isso demanda pessoas especializadas e muito talentosas para se chegar a um bom resultado, além dos custos serem maiores por conta disso. O Brasil nunca teve grandes escolas ou centros de ensino para efeitos visuais. Isso também tem mudado nos últimos anos".
Um dia a gente aprende e enquanto isso não acontece, ou acontece parcialmente, a gente vai tentando, arriscando, experimentando, dando com a cara no muro. Indo à luta.



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